terça-feira, 9 de maio de 2023

 



Brasil braseiro

Helena Erthal

Vou me retirar

Quero partir dessa realidade que amordaça e encarcera.

Quero  estar surda aos abusos e num longo grito, soltar a minha indignação.

Leis manipuladas, juízes que, com canetas afiadas,

cortam a garganta dos que tentam lutar.

 

Muita ganância e estrume nas mentes dos que mandam e

Muita desesperança naqueles que protestaram e estão aprisionados

Sim, serão condenados à pedido da ₴uprema Corte despótica

Esse grupo seleto de repressão  quer se vingar 

das perigosas idosas religiosas, dos estudantes,

farmacêuticos, donas de casa,

pelo delito de expressarem a mais contundente revolta.

 

Cansada da mentalidade que reina,

das guerrinhas políticas em redes sociais, que agem

Como crianças que disputam um brinquedo.

Seria bom se as labaredas desse Brasil, uma vez tornado inferno,

purificassem toda essa iniquidade,

que sobrasse somente os animais e plantas,

imunes às chamas movidas à ambição e poder.

 

Vou para o infinito da minha mente,

Lá me refugiar, quietinha, para que ninguém me ache.

Para que não me torturem com seus discursos programados, cheios de abusos e injustiças

Para que não me alcancem com suas mãos ávidas ao que é dos outros

E assim deixar de ver e ouvir o que de pior o ser humano pode exalar e realizar “em nome do bem comum”.

 

 

segunda-feira, 8 de maio de 2023

 

Antoine Exupéry perto do avião que caiu no Deserto do Saara em 30 de Dezembro de 1935


 “ O império do Homem é interno.” (Antoine de Saint-Exupéry) 


Estou lendo “A terra dos homens” de Antoine de Saint-Exupéry...que livro!! As histórias têm por contexto a segunda guerra mundial, tempo de pessoas intrépidas, que viviam arriscando suas vidas como algo do dia-a-dia. Período onde a Lei não coibia abusos laborais e parecia que as pessoas não os viam dessa forma, e sim como desafios à serem enfrentados.

É um livro de cunho autobiográfico, pois Exupéry começou sua carreira de piloto de linha voando entre Toulouse, Casablanca e Dacar e realmente ajudou a implantar rotas de correio aéreo na África, América do Sul e Atlântico Sul. Percebemos a veracidade desses fatos pela maneira como descreve em detalhes as privações da sede no deserto à beira da morte, como é estar com pessoas que estão indo para o front, entre outras experiências únicas e difíceis de viver.

Ele realmente era destemido e aberto a experiências encantadoras, como em um dos trechos abaixo.

“Obrigado a descer, de outra feita, em uma região de areia espessa, esperava a madrugada. As colinas de ouro ofereciam à lua suas vertentes luminosas, e as vertentes de sombra subiam até os limites da luz. Naquela paisagem deserta de sombra e lua, reinava uma paz de trabalho suspenso e também um silêncio de cilada. No seio desse silêncio, adormeci.

Quando despertei, vi apenas a bacia do céu noturno, porque eu me havia estirado sobre um monte, os braços em cruz. O rosto voltado para aquele aquário de estrelas. Sem compreender ainda o que via, sem saber em que profundeza mergulhava os olhos, fui presa de uma vertigem, sem uma raiz a que me agarrar, sem um teto, um ramos de árvore entre mim e aquela profundeza, solto, largado na queda como um mergulhador.

Mas não caí. Da cabeça aos pés, estava ligado à terra. Sentia uma espécie de apaziguamento, abandonando-lhe o meu peso.  A força da gravidade me aparecia, de repente, soberana como o amor.

 Sentia a terra escorar meus rins, sustentar-me, erguer-me, trasnportar-me no espaço noturno. Descobri-me ligado ao meu astro por um peso semelhante a esse peso que na curva nos liga a um carro, e gozei esse estreitamento admirável, essa solidez, essa segurança. Adivinhei, sob o meu corpo, a curva de meu barco.

Tinha tão perfeita a consciência de estar sendo transportado que teria ouvido sem surpresa subir do fundo das terras a lamentação dos materiais que se reajustam no esforço, o gemido dos velhos veleiros que se chegam ao ancoradouro, o longo, áspero grito das lanchas aflitas. Mas o silêncio continuava na espessura das terras. Mas aquele peso de meu corpo, aquele peso em meus ombros eu o sentia harmonioso, nobre, eternamente uniforme. Eu sentia bem que habitava esta pátria, como os corpos dos forçados das galés, mortos, com seu lastro de chumbo, habitavam o fundo dos mares.

Meditava sobre a minha condição, perdido no deserto e ameaçado, nu entre a areia e as estrelas, afastados por um longo silêncio dos polos de minha vida. Sabia que haveria de gastar, para voltar às minhas terras, dias, semanas, meses, se nenhum avião me encontrasse, se os mouros não me massacrassem no dia seguinte. Não possuía mais nada no mundo. Era apenas um mortal perdido entre a areia e as estrelas, consciente da única doçura de respirar...”

Hoje em dia dificilmente encontraremos pessoas com fibra similar aos “personagens” que viveram aquelas aventuras e vicissitudes, e o mais importante é tentar alimentar em nós uma atitude corajosa e entusiasmada diante da vida.

O que mais me emociona, e sei que raramente encontrarei em outros autores, é o talento em descrever tudo isso pelo modo filosófico, sensível e posso dizer, espiritual. Há uma verdade humana no fundo de cada história, conectada a algo universal e sagrado. E ao longo da leitura vou grifando cada pérola sensível e poética, querendo absorver mais do que minha percepção alcança pois antevejo a riqueza de algo que talvez ainda não consiga enxergar.

É o tipo de livro para se reler de tempos em tempos pois em cada momento diferente de nossas vidas conseguiremos captar novos tesouros.

“Temam menos a morte e mais a vida insuficiente” (Berthold Brecht)


terça-feira, 18 de abril de 2023

 


Querida Flor,

Quando você nasceu vimos seu vigor nos primeiros instantes de vida, berrava mais que todos no berçário e deu um chute na tampa da incubadora, só pra avisar que não aceitará facilmente as limitações que lhe impuserem. Essa vitalidade lhe acompanha, mas às vezes você desacredita, e sente-se frágil, como todos nos sentimos de tempos em tempos.

Entenda que você está num momento de vida em que começa a buscar mais do que trabalhar, pagar contas e se entreter com algo no final de semana. A vida é muito mais, mas isso só passa a ser verdade quando a nossa alma grita por mais essência e sentido. A percepção se abre e passa-se a filtrar tudo: pessoas, trabalho, lugares etc. E assim você encontrará os diamantes de sua vida.

O autoconhecimento não é um processo agradável, pois não somos repletos só de coisas boas, temos muitos entraves, qualidades e defeitos. Somos seres diversos, abrigamos vários personagens...desde Madre Teresa de Calcutá ao “mochila de criança”...kkkk. Porém dentro dessa diversidade(palavra desgastada demais), vamos percebendo o que predomina, e montamos assim um cerne, um pilar de orientação em nossas decisões de vida. Acredite nesse pilar, busque aceitar suas decisões pouco agradáveis aos outros e não se recriminar, saiba que só você pode decidir por você.

Temos altos e baixos nessa jornada, chore um dia, uma semana, mas não chore a vida toda. Comemore um dia ou vários, mas a vida não é uma mar de rosas, e até de festa a gente cansa.

A felicidade está em fazer coisas simples de forma especial. E essa forma, cada um tem a sua, de encantar, de vibrar e irradiar.

Hoje você marca mais um ano em sua vida, que isso lhe traga a consciência do maior bem que temos... o tempo de viver com saúde e assim ter o poder de concretizar sonhos, mudar a vida toda se quiser, errar e acertar...MOVIMENTE-SE.

Com amor

Sempre

Sua mãe, Lena  Dancin' Days - YouTube 


segunda-feira, 10 de abril de 2023

Shake

 

Shake

Há mais ou menos dezesseis anos atrás, o Muchu, nosso cachorro, fugiu e não conseguimos encontrá-lo de jeito nenhum. Depois de um tempo desistimos de encontrar o Muchu e a pessoa que trabalhava em nossa casa na época nos trouxe o Shake, novinho, lindo (branco de manchas marrons). Ele chegou lá em casa rejeitado pelo lar anterior, acusação: super bagunceiro!

Realmente era, puxava as roupas estendidas no varal, corria loucamente pelo quintal, urinava em tudo que fazia sombra, fazia buracos, enterrava coisas, uma energia que dava inveja.

Tinha uma relação com minha filha de irmão, arrotava e peidava na cara dela...muito engraçado os dois. Gostava de dar uns bordejos fora de casa e tinha uma ótima conexão com os cães de rua que minha filha cuidava, todos batizados por nós: Pingo, Dentinho e Hiena.

Já com meu marido o Shake teve a grande comunhão, amor mútuo e incondicional.

O que ele mais gostava era de passear conosco na praia, íamos na mais remota para não incomodar ninguém. Ele parecia um bailarino, corria muito e de repente saltava no ar se contorcendo, um bailado fantástico e emocionante. Íamos todos os finais de semana que não chovesse para fazer nossa caminhada, conversar e ver o espetáculo do Shake.

Minha maior aproximação com ele foi quando passei a trabalhar direto só com cerâmica em meu atelier que fica na parte de baixo de minha casa. Todas as manhãs no mesmo horário ele me esperava para descermos juntos a escada, ele gostava de ficar na porta do atelier. Sempre afetuoso com as alunas, muitas se afeiçoaram a ele.

Quem tem um pet sabe como esses seres conseguem captar as nossas emoções e nos ajudam em nossas fragilidade, medos e tristezas. Ele sabia chegar nesses momentos de forma delicada e demonstrando sua sensibilidade para tentar nos animar.

Hoje ele partiu, já cego e muito alquebrado, imagino o sofrimento dessa criatura que foi tão cheio de energia e vitalidade, chegar a essa decreptude...A lição é que todos chegaremos a isso, se não tivermos um fim súbito, o que me parece bem melhor.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Auto-estima x Verdade

 


Atualmente enfatiza-se demais a conservação da auto-estima das pessoas em detrimento do enfrentamento das situações de rejeição, fragilidade moral e psicológica. Infelizmente, penso que seja uma fuga da realidade evitarmos revelar aos envolvidos a real situação e/ou razão de insucessos. Inevitavelmente terão que enfrentar algum dia, e essas pessoas ficarão cada vez mais frágeis com o passar do tempo. Obviamente me refiro a comunicar, com tato e respeito, o necessário para a pessoa entender a situação.

Outro efeito dessa falta de transparência nas relações é a reincidência dos erros e falhas, tanto em vivências laborais como afetivas. Afinal não se esclarece os motivos reais e assim as pessoas não sabem como corrigir ou mesmo nem imaginam que estejam precisando ajustar algum comportamento ou atitude.

 Naturalmente não é fácil ouvir críticas, por mais bem colocadas que sejam. Quando é com a gente, temos nossas barreiras de negação,  porém é a única forma de “sacudir” nossas mentes para entrar em reflexão e pesar cada ponto abordado. Essa análise nos possibilita avaliar se temos tal comportamento/atitude com outras pessoas e/ou ambientes; assim iremos elencar exatamente os aspectos relevantes de uma tomada de consciência, e possívelmente criar uma atmosfera mental  propícia para ajustar o nosso ‘modus operandi”.

Esse tema foi abordado, principalmente por ter, recentemente, recebido um feedback negativo de minha mãe sobre a maneira, às vezes, intensa de me expressar e de sentir. Fiquei surpreendida e triste inicialmente mas depois refleti e pude verificar que poderiam ter outras pessoas com o perfil da minha mãe e que eu deveria mudar minha maneira de lidar também.

Só ainda não sei como ficará a qualidade das relações com essas pessoas que irei restringir minha espontaneidade para oferecer um ambiente mais ameno. Digo isso pois quando a gente vai iniciar uma mudança é como falar uma outra língua, primeiro a gente pensa em nosso idioma(agir de nosso jeito original) e depois traduz (filtra) para o outro. Assim, provavelmente serei bem mais calada e pouco expressiva daqui por diante com algumas pessoas, mas depois de longa reflexão, cheguei a conclusão que será mais positivo para mim do para elas. Aprenderei a me expressar espontaneamente somente àquelas que curtem esse meu jeito de ser, estando mais tranquila em manter um ambiente livre de tensões com as outras.

O que me trouxe paz ao fim dessa reflexão foi chegar a conclusão que, apesar dos 59 anos de idade, me percebi aberta a ouvir críticas e buscar mudanças.

Desabastecimento no Reino Unido

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Capitalismo e liberdade



A prova de como o capitalismo dá certo é demonstrado no ranking acima, onde os países com maior liberdade de comércio, que sofrem  menos controle da economia por parte de seus governos, são os mais prósperos. O Brasil está colocado no 133 no ranking, uma lástima, e agora temos  um ministro da economia formado em Direito...vai ser difícil.