terça-feira, 18 de abril de 2023

 


Querida Flor,

Quando você nasceu vimos seu vigor nos primeiros instantes de vida, berrava mais que todos no berçário e deu um chute na tampa da incubadora, só pra avisar que não aceitará facilmente as limitações que lhe impuserem. Essa vitalidade lhe acompanha, mas às vezes você desacredita, e sente-se frágil, como todos nos sentimos de tempos em tempos.

Entenda que você está num momento de vida em que começa a buscar mais do que trabalhar, pagar contas e se entreter com algo no final de semana. A vida é muito mais, mas isso só passa a ser verdade quando a nossa alma grita por mais essência e sentido. A percepção se abre e passa-se a filtrar tudo: pessoas, trabalho, lugares etc. E assim você encontrará os diamantes de sua vida.

O autoconhecimento não é um processo agradável, pois não somos repletos só de coisas boas, temos muitos entraves, qualidades e defeitos. Somos seres diversos, abrigamos vários personagens...desde Madre Teresa de Calcutá ao “mochila de criança”...kkkk. Porém dentro dessa diversidade(palavra desgastada demais), vamos percebendo o que predomina, e montamos assim um cerne, um pilar de orientação em nossas decisões de vida. Acredite nesse pilar, busque aceitar suas decisões pouco agradáveis aos outros e não se recriminar, saiba que só você pode decidir por você.

Temos altos e baixos nessa jornada, chore um dia, uma semana, mas não chore a vida toda. Comemore um dia ou vários, mas a vida não é uma mar de rosas, e até de festa a gente cansa.

A felicidade está em fazer coisas simples de forma especial. E essa forma, cada um tem a sua, de encantar, de vibrar e irradiar.

Hoje você marca mais um ano em sua vida, que isso lhe traga a consciência do maior bem que temos... o tempo de viver com saúde e assim ter o poder de concretizar sonhos, mudar a vida toda se quiser, errar e acertar...MOVIMENTE-SE.

Com amor

Sempre

Sua mãe, Lena  Dancin' Days - YouTube 


segunda-feira, 10 de abril de 2023

Shake

 

Shake

Há mais ou menos dezesseis anos atrás, o Muchu, nosso cachorro, fugiu e não conseguimos encontrá-lo de jeito nenhum. Depois de um tempo desistimos de encontrar o Muchu e a pessoa que trabalhava em nossa casa na época nos trouxe o Shake, novinho, lindo (branco de manchas marrons). Ele chegou lá em casa rejeitado pelo lar anterior, acusação: super bagunceiro!

Realmente era, puxava as roupas estendidas no varal, corria loucamente pelo quintal, urinava em tudo que fazia sombra, fazia buracos, enterrava coisas, uma energia que dava inveja.

Tinha uma relação com minha filha de irmão, arrotava e peidava na cara dela...muito engraçado os dois. Gostava de dar uns bordejos fora de casa e tinha uma ótima conexão com os cães de rua que minha filha cuidava, todos batizados por nós: Pingo, Dentinho e Hiena.

Já com meu marido o Shake teve a grande comunhão, amor mútuo e incondicional.

O que ele mais gostava era de passear conosco na praia, íamos na mais remota para não incomodar ninguém. Ele parecia um bailarino, corria muito e de repente saltava no ar se contorcendo, um bailado fantástico e emocionante. Íamos todos os finais de semana que não chovesse para fazer nossa caminhada, conversar e ver o espetáculo do Shake.

Minha maior aproximação com ele foi quando passei a trabalhar direto só com cerâmica em meu atelier que fica na parte de baixo de minha casa. Todas as manhãs no mesmo horário ele me esperava para descermos juntos a escada, ele gostava de ficar na porta do atelier. Sempre afetuoso com as alunas, muitas se afeiçoaram a ele.

Quem tem um pet sabe como esses seres conseguem captar as nossas emoções e nos ajudam em nossas fragilidade, medos e tristezas. Ele sabia chegar nesses momentos de forma delicada e demonstrando sua sensibilidade para tentar nos animar.

Hoje ele partiu, já cego e muito alquebrado, imagino o sofrimento dessa criatura que foi tão cheio de energia e vitalidade, chegar a essa decreptude...A lição é que todos chegaremos a isso, se não tivermos um fim súbito, o que me parece bem melhor.