Shake
Há mais ou menos
dezesseis anos atrás, o Muchu, nosso cachorro, fugiu e não conseguimos
encontrá-lo de jeito nenhum. Depois de um tempo desistimos de encontrar o Muchu
e a pessoa que trabalhava em nossa casa na época nos trouxe o Shake, novinho,
lindo (branco de manchas marrons). Ele chegou lá em casa rejeitado pelo lar
anterior, acusação: super bagunceiro!
Realmente era,
puxava as roupas estendidas no varal, corria loucamente pelo quintal, urinava
em tudo que fazia sombra, fazia buracos, enterrava coisas, uma energia que dava
inveja.
Tinha uma
relação com minha filha de irmão, arrotava e peidava na cara dela...muito
engraçado os dois. Gostava de dar uns bordejos fora de casa e tinha uma ótima
conexão com os cães de rua que minha filha cuidava, todos batizados por nós:
Pingo, Dentinho e Hiena.
Já com meu
marido o Shake teve a grande comunhão, amor mútuo e incondicional.
O que ele mais gostava
era de passear conosco na praia, íamos na mais remota para não incomodar
ninguém. Ele parecia um bailarino, corria muito e de repente saltava no ar se
contorcendo, um bailado fantástico e emocionante. Íamos todos os finais de
semana que não chovesse para fazer nossa caminhada, conversar e ver o
espetáculo do Shake.
Minha maior aproximação
com ele foi quando passei a trabalhar direto só com cerâmica em meu atelier que
fica na parte de baixo de minha casa. Todas as manhãs no mesmo horário ele me
esperava para descermos juntos a escada, ele gostava de ficar na porta do
atelier. Sempre afetuoso com as alunas, muitas se afeiçoaram a ele.
Quem tem um pet
sabe como esses seres conseguem captar as nossas emoções e nos ajudam em nossas
fragilidade, medos e tristezas. Ele sabia chegar nesses momentos de forma
delicada e demonstrando sua sensibilidade para tentar nos animar.
Hoje ele partiu,
já cego e muito alquebrado, imagino o sofrimento dessa criatura que foi tão
cheio de energia e vitalidade, chegar a essa decreptude...A lição é que todos
chegaremos a isso, se não tivermos um fim súbito, o que me parece bem melhor.
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