segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Agnosticismo

Pode-se pensar que um agnóstico seja desprovido de mística, mas isso é um grande engano. Mesmo porque existem tipos diferentes de agnosticismo. Não seguir uma religião não quer dizer que a pessoa se fechou ao metafísico. Pelo menos essa é a situação de muitos que conheço, inclusive eu.

Tive contato com várias religiões na época da adolescência, e pude concluir logo cedo que nenhuma delas correspondia ao meu modo de pensar os assuntos metafísicos.

A minha ligação com o estudo da mitologia tem tudo a ver com essa busca, que parte de algo concreto e se direciona ao impalpável. Ela me trouxe o fundamento que não encontrei na religião para as questões não respondidas. O mais importante é que as respostas são “construídas” individualmente.

Para mim, a percepção clara de “algo mais” nessa vida se deu através da apreciação da arte. Os artistas estão conectados com essa linguagem peculiar, que nos fala a alma. Eles sempre tiveram, de forma silenciosa, ou mesmo inconsciente, a incumbência de nos ajudar a transcender, não importando a época ou o tipo de expressão artística.

O importante é não deixarmos de viver o transcendente, a forma ou tipo de linguagem são detalhes irrelevantes. Os vários caminhos não desvirtuam o destino.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Poema - Anônimo

Dor de navio partido
À luz de névoas incertas
Sonho naufragado, sentido
Fôlego sem chance
Afogado

Correnteza que mudou com o vento
E levou-me de volta a nenhum lugar
Onde um dia sorriu-me o nascente
E logo em ocaso mergulhou no mar

Solidão antártida, isolada tristeza
Montanha de cristal, sepultura e beleza
De um começo de brilho, pobre carvão
Que por um instante em diamante se quis

Fria madrugada, suave adaga a tirar-me o sorriso
Último som, distante esperança, carícia estertora,
Magoada,
Última flor que desabrochou na geada

Para sempre aurora de um dia jamais.
Para sempre matiz de tela imperfeita,
pintura incompleta do último silêncio
.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

De olhos bem abertos....

O que mais me atrai nas pessoas é a autenticidade e principalmente a forma peculiar de cada um perceber diferentemente as coisas. Cada vez fica mais difícil encontrá-las, todos estamos camuflados, embotados com as exigências da vida.
Temos que acertar nossas “lentes” para melhor percebermos as pessoas e o mundo de forma mais consciente, lúcida. Assim, tudo fica mais colorido e a vida passa a nos tocar de forma mais bonita e poética. Sem isso entramos no automático e o dia-a-dia se transforma numa avalanche de mesmices em preto e branco.
As vezes procuramos emoção, “viver a vida intensamente”...mas procuramos por isso de olhos fechados....

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Mudanças

Quando eu tinha uns vinte anos costumava ter um acompanhamento crítico dos acontecimentos, emoções e pensamentos que passavam por mim, muitas vezes escrevia a respeito. Ontem encontrei em minhas bagunças um desses relatos. Primeiramente achei divertido perceber a rebeldia das palavras e o lugar comum das situações. Num segundo momento percebi a facilidade com que analisava fatos e emoções de forma lúcida e crítica.

As vezes me pergunto se não piorei com os anos em alguns aspectos, e penso que sim. Talvez tenha me tornado condescendente demais e me deixado levar pela rotina e a mesmisse do dia-a-dia, perdendo bastante dessa consciência de viver, que encontrei em meu texto. Em contraponto, fiquei menos rígida e mais tranquila em relação aos meus erros e, consequentemente, aos dos outros também.

De vez em quando temos que lembrar como éramos e analisarmos nossas mudanças, tanto positivas como negativas. Serve como balanço e também como forma de perceber pontos de melhoria que precisamos (queremos) alcançar.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Transcendência

(pintura em seda - Ita Andrade)

"Como a pessoa comum alcança o transcendente? Para começar, eu diria, estudando poesia. Aprenda como ler um poema. Você não precisa ter a experiência da obtenção da mensagem, ou ao menos alguma indicação da mensagem. Esta pode surgir gradualmente. Há, entretanto, vários modos de chegar à experiência transcendente." (fragmento do livro "Isto és Tu" - Joseph Campbell)