sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pai

Ele foi um dos pais mais presentes que conheci. Nós cinco, quando pequenos, esperávamos ansiosos sua chegada em casa, sempre tinha briga para abraçá-lo e beijá-lo, falávamos ao mesmo tempo nossas novidades do dia e ele ria quando tapávamos a boca um do outro para reter sua atenção....Íamos acompanhando cada passo dele dentro de casa até que chegasse o momento de ir para mesa jantar. Antes de dormir ficávamos todos juntos em sua cama conversando ou só para estar perto mesmo.

Queríamos um pedacinho daquele homem encantado, com suas estórias incríveis inventadas ao som de alguns clássicos. Conosco sentados em roda, não interessava que ele contasse várias vezes a mesma estória pois ela sempre tinha algo novo a cada versão. Comprava autorama, mesa de ping-pong e brincava conosco, o mesmo com a barraca de acampamento (dormimos os cinco com ele numa metragem quadrada desafiadora). Ele participava de todos os brinquedos, sempre numa atuação competitiva, levando a nos aperfeiçoar pra tentar desbancá-lo...Não podia ser desafiado, senão iria até o limite de suas forças para tentar ganhar....ele se divertia pra valer!

Viajávamos para fazenda sempre na kombi da firma, ele e mamãe na frente é nós enfileirados em pé atrás deles segurando naquele travessão, todo mundo queria ficar na muvuca perto deles. Ìamos falando, brincando entre si até que começávamos a brigar...Ele conseguia dar cascudos e beliscões na gente e dirigir ao mesmo tempo.

Eu sempre fui sua “Juca, minha flor” no meio dos quatro meninos. Juca por ser o nome de um antepassado com fama de destemperado...imagine como eu era quando criança...uma candura! Eu era completamente apaixonada por ele, meu herói, meu galã...Quando pequena falei pra mamãe: Poxa, como papai é lindo, né? E minha mãe tentando me explicar sobre beleza interior, já que papai não se podia chamar de um Sean Connery na época.


Das várias lições de vida que ele nos passou, creio que a garra para alcançar os objetivos e viver os sonhos seja a mais forte. Ele gostava de contar que saiu de Barra Alegre (distrito de Bom Jardim-RJ) aos dezessete anos de idade (1944) “cheirando a capim gordura” para vir à cidade grande com a mala cheia de sonhos.... desde aquele tempo ele já sabia que iria conquistar muitos deles.

Agora ele passa por duras provas, está com sua saúde debilitada e por isso escrevo essas palavras. Aquela pessoa que está naquele leito fez muito por nós e, junto com nossa mãe significam os alicerces de nossa existência.

Pai, obrigada por todo esse universo de sentimentos maravilhosos que você nos deu!!!