A sensibilidade nos traz nuances fantásticas de apreciação da vida, das artes, das pessoas e, principalmente, da natureza. Por outro lado nos faz desenvolver, com o tempo, uma grande rede de “capilares sensíveis” que nos faz perceber e reagir a poucos e mínimos estímulos. Guardamos sensações eternamente, quando o certo seria deixarmos passar e simplesmente esquecê-las. Helena Erthal
3 comentários:
O eterno relance... O primeiro vocábulo evoca o que é permanente, infinito, atemporal, o que se repete; o segundo vocábulo remete ao que é transitório, fugaz, fragmentado no tempo. A combinação desses vocábulos revela a
tensão, experimentada por todos nós personagens, quanto à passagem do tempo..
Palavras da banca da UFRJ (Vestibular 2006) modificadas por mim. Texto abaixo em : CASTRO, Jorge Viveiros de. De todas as únicas maneiras & outras.
Rio de Janeiro: 7Letras, 2002. p.113
Na contramão dos carros ela vem pela calçada,
solar e musical, pára diante de um pequeno jardim,
uma folhagem, na entrada de um prédio, colhe uma
flor inesperada, inspira e ri, é a própria felicidade –
passando a cem por hora pela janela. Ainda tento vêla
no espelho mas é tarde, o eterno relance. Sua imagem
quase embriaga, chego no trabalho e hesito, por
que não posso conhecer aquilo? – a plenitude, o
perfume inusitado no meio do asfalto, oculto e óbvio.
Sempre minha cena favorita.
Ela chegaria trazendo esquecimentos, a flor no
cabelo. Eu estaria à espera, no jardim.
E haveria tempo.
A mesma sensibilidade que nos joga de encontro à experiência, também nos joga num abismo de dúvidas..
Dentre estas a maior incerteza de saber, ou não saber que um dia tudo
vai ficar no esquecimento, e até, esse dia ficaremos tentando rever o que nunca vimos, procurar o inachadiço e sentir o então insensível do nosso mais simples pensar.
Postar um comentário